

Em 2014, eu tive um treco.
Estava jantando com uma amiga em um restaurante e comecei a sentir que eu ia desmaiar. Foi um furdunço, porque eu estava realmente me sentindo muito,
muito mal e ninguém sabia o que fazer.
Eu tremia, os sons pareciam distantes,
eu tinha dificuldade para engolir, tava morrendo de frio de repente e não tinha forças. Me arrumaram um lugar pra deitar e, quando consegui, fui para um PS.
Me viraram do avesso e... nada.
Tudo normal.



Fui pra casa, deitei e dormi por 14 horas.
A partir do momento em que eu acordei, minha rotina, por muitas semanas foi essa: eu dormia 14 horas e passava o resto do dia deitada no sofá vendo série.
Não conseguia dar mais de 4 passos sem precisar me sentar pra descansar.
Em um dia eu estava trabalhando, fazendo curso, treino de corrida e academia e,
no dia seguinte, eu não conseguia esperar o microondas por um minuto e minha mãe precisava ir lá em casa me dar comida.
Fui em cerca de 15 médicos gabaritados de especialidades diferentes, fiz muitos exames e a conclusão era: nada.
Tudo normal.
A partir dessa conclusão, alguns me
diziam que era emocional e me mandavam pro Psiquiatra. Outros pegavam um sintoma só, dentro da extensa lista que
eu relatava, e tratavam aquilo como causa.
Por um ano e meio foi isso.


Até que cheguei a uma homeopata,
que entendeu o que estava acontecendo.
Fui parar em um tratamento para disautonomia (um dos sintomas) em que me colocavam, no auge da fadiga, pra andar na esteira. Eu passava mal e me falavam "vamos aumentar o treino".
Foi a primeira vez na vida que
abandonei um tratamento, porque
eu sentia que ia morrer com aquelas pessoas aumentando a velocidade da esteira e gritando VAMO!
Três anos depois do treco que eu tive no restaurante, eu cheguei em um médico
da linha integrativa e só aí eu ouvi,
pela primeira vez na vida, a palavra BURNOUT.
Ainda não foi esse médico que resolveu. Foram vários psicólogos.
Várias terapias complementares.
Foi uma verdadeira epopéia até eu conseguir entender que a gente é EXTREMAMENTE mal orientado
em um burnout.


A ignorância é imensa e a pressa de taxar a gente como desequilibrado emocional com uma receita de tarja preta na mão
é maior ainda.
Todo esse tempo sem tratamento ou com tratamentos errados, problemas sendo ignorados e irresponsabilidades em geral fizeram meu quadro se agravar e se prolongar. Não vou dizer que isso é uma coisa positiva, porque né? Pelamor.
Não desejo isso nem a inimigo.
Mas teve seu lado "bom", que foi o de eu ficar tão puta que decidi ajudar do jeito
que desse as pessoas que se encontravam no mesmo caos pelo que passei.
E estou aqui, falando sobre o assunto, ajudando na conscientização, desfazendo preconceitos e mitos, escrevendo, falando, dando entrevista e lutando para que a próxima leva de burnoutados não precisem ser humilhados, debochados, desautorizados e tratados com desdém
por nenhum profissional de saúde,
familiar ou colega de trabalho.
